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terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Crônica - Ele não quer mais violência

Ele acordou às 6h da manhã já com um pensamento fixo. Este pensamento há dias o ronda. Levantou, procurou alguma coisa pra comer, mas não encontrou. Sentou-se no sofá e seus pensamentos voltaram a borbulhar.
Sentia-se em estado de guerra consigo mesmo. Respirou fundo, olhou seus cinco irmãos que dormiam amontoados no barraco e saiu como que se fugisse de sua própria alma.
Ele desceu correndo o morro, não queria perder o ônibus que ia ao centro da cidade. Dentro do ônibus conseguia ver a favela ficando para trás, sentiu esperança, sentiu medo, mas já estava decidido e não queria mais levar aquela vida. Ele buscava renovação.
Uma semana antes de tomar a decisão ele havia lido no jornal que a guerra no Rio de Janeiro entre traficantes e policiais matava mais que a guerra do Iraque. A notícia fez com que lembrasse de seu pai. Um senhor muito bem afeiçoado e distinto, que vivia de fazer bicos. Era encanador, pedreiro, eletricista... Era tudo o que fosse honesto e que desse dinheiro.
Mas em um dia comum de trabalho seu pai foi vítima de uma bala extraviada e deixou-o com apenas 8 anos. A partir daquele momento, ele - menino e desamparado - foi conquistado pelo tráfico. Porém o medo de morrer e deixar seus cinco irmãos e sua mãe desamparada fez com que ele tomasse uma decisão. A decisão de mudar de vida.
Agora ele já estava dentro do ônibus em busca de uma vida melhor. Ele queria conseguir um trabalho honesto e digno e, por isso, entrou no ônibus em rumo ao centro da cidade. Quando o ônibus parou, ele desceu no centro da cidade. Olhou um lado. Olhou o outro. Respirou fundo. Ergueu a cabeça e começou sua caminhada a procura de emprego.
Ouviu muito não quando dizia que era morador do morro mais perigoso da cidade, mas isso não lhe abateu. Ele estava decidido.Parou em uma lanchonete, já cansado de tanto andar, contou ao dono que buscava um trabalho. O dono do estabelecimento decidiu dar a ele uma chance como entregador.
Ele vibrou de alegria. Sabia que a partir daquele momento não faria mais parte do tráfico. Não roubaria nem mataria mais. Ele era um homem novo. Saiu vagarosamente da lanchonete. Pensava em várias formas de contar para sua mãe - a novidade. Ela que sempre sonhou com seu filho em ser um homem digno e trabalhador. Ele sabia que ela iria se orgulhar. Ele pensou nos irmãos e no pai já falecido e sentiu orgulho de si mesmo. Resolveu ir até a praia para comemorar a vida nova com um mergulho.
Ao pisar na areia foi confundido com um rapaz que havia acabado de assaltar uma relojoaria. Os policiais pediram para ele parar. Ele não ouviu. Ele não parou. Então, um tiro fez com que seu corpo parasse. E parasse definitivamente. Junto com seus sonhos. Junto com seu orgulho e a novidade do emprego. Junto com a história de mudar de vida. Ele foi mais uma vítima da violência, mesmo quando fugia dela e tentava negá-la para mudar de vida.
CAROLINE FLORES

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